quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A GRANDE VIRADA / José Luiz Tejon


A GRANDE VIRADA: 50 regras de ouro para dar a volta por cima / José Luiz Tejon – São Paulo: Editora Gente, 2008. (278 páginas)

O meu primeiro contato com José Luiz Tejon foi televisivo. Ele como palestrante em um evento no Rio Grande do Sul sobre o agronegócio e eu como telespectador de um canal de televisão que transmitia o evento.

De pronto a fala de Tejon me chamou a atenção. Naquela oportunidade falava sobre a maneira pela qual o urbano vê o rural. A imagem do primeiro é exatamente aquela de felicidade plena quando de uma visita a uma chácara, sítio ou fazenda. Paz, ar puro, natureza, sol, chuva, mata, animais, córrego, represa, riachos, rios, frango caipira na panela, queijo fresco, etc.. Na verdade não é bem assim. Mas então, de quem é a culpa dessa visão equivocada? De ninguém mais do que o rural. E aí, emprenhou-se pelos caminhos da necessidade de um marketing bem feito sobre o campo.

Como o próprio Tejon assevera no livro, “A ‘rede social’ é a grande virada do mundo moderno”, e é. Anotei seu nome, liguei o computador, acessei o Google, digitei seu nome e lá estava tudo sobre nosso palestrante, inclusive algumas entrevistas concedidas ao Jô Soares. Numa delas pude conhecer um pouco de sua história que também é narrada no livro. Uma história de superação.

Quando criança, sua mãe adotiva preparava uma cera com uma substância inflamável para cuidar do piso da casa quando, uma faísca de fogo atingiu a vasilha que por ela foi atirada pela porta da cozinha atingindo Tejon deformando-o completamente. Foram anos de tratamento médico e internações na tentativa de dar uma melhor qualidade de vida, o que de certa forma consumiu-lhe a infância.

Todavia, a habilidade de sua mãe adotiva ao tirá-lo de casa para o contato com as pessoas é algo que fascina. Quanta sabedoria daquela mulher, o mesmo podendo afirmar com relação ao pai adotivo. E a partir de então, uma superação a cada dia, levando-o desde uma recusa de emprego em uma empresa cujos proprietários eram conhecidos da família, por não ter datado a carta comercial através da qual solicitava uma oportunidade, até o título de mestre em Educação, Arte e Cultura pela Universidade Mackenzie; professor de pós-graduação da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo; presidente da TCA – Internacional em sociedade com especialistas italianos vinculados à Universidade La Sapienza, de Roma; Especialização em distintas áreas em escolas como Harvard, MIT, Pace University e Insead; Executivo e diretor de grandes corporações como Jacto S/A, Agroceres S/A e OESP Mídia/Bellsouth do Jornal O Estado de São Paulo. É consultor do Grupo O Estado de São Paulo e da Rede Social de Negócios Peabirus. Articulista de revistas, jornais e comentarista das redes Eldorado e Transamérica de rádio; presidente e membro do conselho de várias entidades.

Esse filho adotivo que iniciou seus estudos numa escola de crianças excepcionais e passou catorze anos de sua vida semi-internado em hospitais públicos é considerado um dos melhores palestrantes no Brasil e no exterior e autor de dez livros, incluindo o best-seller O voo do cisne, publica pela editora Gente, já em sua 5ª edição, A GRANDE VIRADA: 50 regras de ouro para dar a volta por cima. Uma leitura agradável. Recheado de histórias ilustrando os textos. Um livro que nos conscientiza de que “o maior medo do mundo não é o da morte, é o da vida”, então, como enfrentá-lo. Aí consiste todo o enredo de A GRANDE VIRADA.

Luiz Humberto Carrião.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O poema que Maiakovski não escreveu

[...]

“Na primeira noite eles se aproximam / roubam uma flor / do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada./ Até que um dia / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo o nosso medo / arranca-nos a voz da garganta./ E já não dizemos nada.” 

[...]


No Caminho, com Maiakóvski

Eduardo Alves da Costa
  
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!


 Um poeta brasileiro, autor destes versos, tem sido confundido, com freqüência, nas quatro últimas décadas, com o poeta russo Wladimir Maiakovski. Os equívocos cometidos, as leituras apressadas, uma provável desatenção e, até mesmo, certo descaso com a produção poética brasileira contemporânea, já produziram interpretações impensadas e informações à beira de um ataque de sandice no meio cultural brasileiro. Comentários e artigos de algumas personalidades, de gente ilustrada e lida, têm reanimado a confusão e perpetuado um erro, no mínimo, culpado por uma séria injustiça que desvaloriza um dos grandes nomes da poesia brasileira particularmente criada na segunda metade do século 20. O poeta em questão o fluminense Eduardo Alves da Costa, nascido em Niterói (RJ) e, paulistanizado desde os anos 60, reconhecidamente um dos mais expressivos poetas de São Paulo, cidade cuja produção poética é rica também por contar, em sua geração, com nomes da grandeza de um Álvaro Alves de Faria, Alberto Beuttenmuller, Eunice Arruda, Renata Pallotini, Cláudio Willer, Jaa Torrano, Érico Max Muller, Roberto Piva, entre outros. Confundem o seu nome com o de Maiakovski por causa da publicação do seu poema, justamente intitulado “No caminho, com Maiakovski”, incluído originalmente no seu livro O TOCADOR DE ATABAQUE, lançado em São Paulo no ano de 1969. A Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, ao publicar a poesia reunida de Eduardo Alves da Costa, em 1985, com o título geral NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI, transcreveu os versos iniciais (que é a única parte conhecida do poema) com esta nota explicativa: “A autoria deste poema tem sido atribuída, por equívoco, ao poeta russo Vladimir Maiakovski. O poema foi escrito por Eduardo Alves da Costa, em 1964.” Mas, assim mesmo, os equívocos continuaram e continuam, nos dias de hoje, por este Brasil desmemoriado afora. É preciso que se reconheça a importância de Eduardo Alves da Costa como um dos grandes nomes da poesia brasileira do século 20. E isso não apenas por ombrear-se ao gigante russo Maiakovski, caminhando ao seu lado e lhe ditando, com o sangue dos seus versos candentes, a alma mestiça da América brasileira pulsando ritmada o seu discursivo e belo poema citado, e, sim, também, pela notável criação plena de verdade e consciência crítica dos seus poemas, a exemplo de “O tocador de atabaque”, “A rosa de asfalto”, “A cama de pregos”, “Ouço ruído de tambores”, “Tentativa para salvar a poesia”, “Canção para o meu tempo”, “Sugestões para elaboração de um novo mural na ONU”, “Banana split”, “Tropas”, “Nova presença no mundo” e “Na terra dos brucutus”, entre outros, todos (imperdíveis e leitura obrigatória para quem se sente brasileiro e latino-americano) publicados no seu livro NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI. (JUAREIZ CORREYA)

Luiz Humberto Carrião