Noutro dia perdi um daqueles
amigos ‘que não cabe num abraço’, como reverencia o poeta. Nesses momentos por
mais estruturados que sejamos a fragilidade se faz presente. Acabamos por olhar
pra dentro de nós mesmos e perguntar, e aí?
Ao completar 50 anos de idade,
trabalhando na redação de um suplemento agropecuário de um semanário de
Goiânia, fiz que como num desabafo na coluna que escrevia que a partir daquele
momento iria preocupar-me com os meus direitos, já havia dado importância demais
aos deveres. O que eu não sabia é que os deveres são eternos. E como tal, intermináveis. E, como para viver plenamente os direitos há que se estar em dia
com os deveres, conscientizei! Jamais vou conseguir viver plenamente meus
direitos.
Encontro-me naquele grupo de
brasileiros que logo pela manhã através de uma ‘caneta’ fura um dos dedos para
medir a glicemia. Os que têm responsabilidade mantêm-se em atitude ‘paulina’ à
dieta prescrita pelo profissional da saúde, mas outros como eu, em que os
deveres impediram de viver os direitos, têm no poeta argentino Jorge Luiz
Borges a referência: ‘Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima
trataria de cometer mais erros [...] Mas vejam só, tenho 85 anos e sei que
estou morrendo’.
Para alcançar os 85 do poeta
restam-me tão somente 26. Por isso, vou a partir de agora passar a ‘cometer
mais erros’ a fim de evitar um arrependimento futuro.
Luiz Humberto Carrião
Setembro, 2012
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