quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reflexões

Noutro dia perdi um daqueles amigos ‘que não cabe num abraço’, como reverencia o poeta. Nesses momentos por mais estruturados que sejamos a fragilidade se faz presente. Acabamos por olhar pra dentro de nós mesmos e perguntar, e aí?

Ao completar 50 anos de idade, trabalhando na redação de um suplemento agropecuário de um semanário de Goiânia, fiz que como num desabafo na coluna que escrevia que a partir daquele momento iria preocupar-me com os meus direitos, já havia dado importância demais aos deveres. O que eu não sabia é que os deveres são eternos. E como tal, intermináveis. E, como para viver plenamente os direitos há que se estar em dia com os deveres, conscientizei! Jamais vou conseguir viver plenamente meus direitos.

Encontro-me naquele grupo de brasileiros que logo pela manhã através de uma ‘caneta’ fura um dos dedos para medir a glicemia. Os que têm responsabilidade mantêm-se em atitude ‘paulina’ à dieta prescrita pelo profissional da saúde, mas outros como eu, em que os deveres impediram de viver os direitos, têm no poeta argentino Jorge Luiz Borges a referência: ‘Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros [...] Mas vejam só, tenho 85 anos e sei que estou morrendo’.

Para alcançar os 85 do poeta restam-me tão somente 26. Por isso, vou a partir de agora passar a ‘cometer mais erros’ a fim de evitar um arrependimento futuro.

Luiz Humberto Carrião
Setembro, 2012

Nenhum comentário:

Postar um comentário