quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Eros & Thanatos, a morte sob a óptica da enfermagem

Eros & Thanatos: a morte sob a óptica da enfermagem / Wiliam César Alves Machado, Joséte Luzia leite. – São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2006. 206 p.

Eros & Thanatos é um verdadeiro tratado psicanalítico sobre a vida e a morte, tomando como referência a visão de enfermeiros que acalantam no nascimento e silenciam na morte.

Os autores usam a palavra “cliente” em substituição a tão familiarizada paciente e o doente terminal “moribundo”.

Partindo de uma EQM (experiência de quase morte) vivida por um dos autores, doutor em enfermagem, professor e profissional da saúde usou a enfermagem para discutir um assunto subjetivo: a vida após a morte.

A obra é muito bem fundamentada do ponto de vista de pesquisa e contém depoimentos de profissionais de enfermagem interessantes e corajosos.

Num desses depoimentos uma enfermeira diz que o choque com relação à morte começou ainda na vida acadêmica. Mesmo assistindo o estado agonizante da pessoa, lhe foi muito difícil ver com qual violência o corpo é tratado no hospital depois da morte. Considera isso um estupro. Aliás, um duplo estupro como coloca, uma vez que a pessoa estuprada não tem como reagir. Não é fácil assistir ou ter que aplicar a violência da técnica, colocando metros de gaze e chumaços de algodão nos orifícios da pessoa.  Outro detalhe de relevância para ela é que você está lutando desesperadamente para salvar uma pessoa, e assim que é efetivado o óbito, de imediato a gente que se livrar dele. E para ela o mais chocante é como a família fica alienada desse processo. A família não é dada à participação. É como se o hospital com seu corpo profissional fosse dono da vida e da morte. A família trás um ser humano e recebe um “pacote”.

Para os autores “o livro pretende dar inicio a uma discussão sobre o tema da morte e do morrer como experiência de vida dos enfermeiros sob outro enfoque. Ele parte do princípio de que o medo da morte é uma reação natural de todos, especialmente dos que convivem com ela em sua prática profissional e precisam superar suas limitações para prestar assistência e cuidados aos clientes e apoio aos familiares. Além disso, propõe uma reflexão sobre nossas atitudes, assim como uma reavaliação de nossas crenças e valores religiosos como meio fundamental para aceitar os diversos valores e crença de nossa clientela.”

Interessante a correlação estabelecida entre o túnel vaginal durante o nascimento e o túnel descrito por todos aqueles que tiveram uma EQM (experiência de quase morte).

“Nascer é mergulhar em algo desconhecido [...] Morrer é fazer uma viagem sem levar a mala”.

Luiz Humberto Carrião

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