Muitos são aqueles que agradecem por terem nascido. Eu vou mais além, agradeço por ter nascido na data em que nasci, 1953. Com isso, pude presenciar a apresentação da cultura popular ao povo brasileiro pela TV Record de São Paulo e Rádio Panamericana, depois Jovem Pan. A década de 60 do século passado me foi decisiva. De lá trago a formação ideológica, humanística, cultural, musical e acima de tudo, a certeza de que o homem é capaz de traçar caminhos. Se a Idade Medieval com sua escuridão fermentou o Mundo Moderno, com certeza, os anos de 1960 não foram diferente com esse Mundo Contemporâneo. Gado, “a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente...” essa era a contestação não só no Brasil, mas no mundo! Racismo: segregação estúpida na América do Norte; Guerra do Vietnã: um genocídio em nome do consumismo; l964: Um golpe inaugura a ditadura militar no Brasil; Explosão na França: estudantes da Sorbonne protestaram, o reitor chamou a polícia e o estopim foi aceso; Explosão no Brasil: o estudante Edson Luís Lima e Souza tomba morto pela polícia no restaurante calabouço do Rio de Janeiro; Thecoslováquia e a breve Primavera de Praga: primeiro ouve-se um chiado de lagartas, depois perceberam que eram os tanques soviéticos; Acabou o mistério: a Lua deixou de ser dos namorados para ser dos astronautas; AI-5: uma rasteira na Constituição Brasileira. Como foram decisivos para a compreensão de tudo isso a TV Record. É... Essa mesmo aí, a do Bispo. Só que a TV retratada no livro é aquela do antes, e esta é a do depois.
De imediato, na orelha do livro, escreve Silvio Luiz: “Quem estuda ou escreve sobre comunicação tem a obrigação de sempre consultar este livro” [...] A primeira ilustração uma bela foto com Idalina de Oliveira, atualmente uma das entrevistadoras do programa Prazer em Conhecê-lo, na Rede Vida de Televisão, que por 25 anos foi garota-propaganda da emissora.
Dividido em décadas pelo autor em 1940, 1950 e 1960, são “causos” interessantes sobre a televisão, rádio e artistas brasileiros e estrangeiros, como a revelação de que quando da presença de Nat King Cole no Brasil, contratado pela Record, o fenômeno mundial exigiu tudo cor de rosa em seu quarto de hotel e camarim, neste inclusive as frutas, e para a surpresa do autor, ao visitá-lo no hotel o encontrou de cuecas e meias, também cor de rosa; Sammy Davis Jr, cantor e vocalista do conjunto vocal The Platters, além de ator Hollywodiano que, numa de sua temporada de seis dias no Brasil, ao brigar pelo telefone com sua namorada, a atriz sueca May Britt, quebrou toda a suíte presidencial do Othon Palace Hotel, cujo prejuízo alcançou a cifra de 50% dos valores recebidos na turnê. E mais, segundo confissão do empresário, isso era coisa rotineira com o artista; A paixão avassaladora de Marlene Drietrich por um playboy brasileiro, condicionando sua ultima apresentação no Brasil à presença no afair e de seu felino, um lince pardo, ambos na primeira fila do teatro. Com a MPB a inspiração dos Festivais da Record no Festival de San Remo; o porque do empate entre Banda de Chico Buarque de Holanda e Disparada de Geraldo Vandré, defendida por Jair Rodrigues; a atuação da Censura; “Habilmente, resolvi a situação conseguindo um emprego para o sobrinho da censora da Record. Após essa atitude, ela nunca mais colocou empecilho em nenhuma música. Seus olhos e ouvidos ficaram menos exigentes”.
No penúltimo capítulo fala das tragédias provocadas pelo fogo por várias vezes nos Teatros da Emissora e uma vez em sua torre de transmissão. Incêndios até hoje não revelado suas causas. Mesmo porque, em certa época, foram vítimas do fogo a TV Record, Globo e Bandeirantes.
Luiz Humberto Carrião
Luiz Humberto Carrião
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