quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A GRANDE VIRADA / José Luiz Tejon


A GRANDE VIRADA: 50 regras de ouro para dar a volta por cima / José Luiz Tejon – São Paulo: Editora Gente, 2008. (278 páginas)

O meu primeiro contato com José Luiz Tejon foi televisivo. Ele como palestrante em um evento no Rio Grande do Sul sobre o agronegócio e eu como telespectador de um canal de televisão que transmitia o evento.

De pronto a fala de Tejon me chamou a atenção. Naquela oportunidade falava sobre a maneira pela qual o urbano vê o rural. A imagem do primeiro é exatamente aquela de felicidade plena quando de uma visita a uma chácara, sítio ou fazenda. Paz, ar puro, natureza, sol, chuva, mata, animais, córrego, represa, riachos, rios, frango caipira na panela, queijo fresco, etc.. Na verdade não é bem assim. Mas então, de quem é a culpa dessa visão equivocada? De ninguém mais do que o rural. E aí, emprenhou-se pelos caminhos da necessidade de um marketing bem feito sobre o campo.

Como o próprio Tejon assevera no livro, “A ‘rede social’ é a grande virada do mundo moderno”, e é. Anotei seu nome, liguei o computador, acessei o Google, digitei seu nome e lá estava tudo sobre nosso palestrante, inclusive algumas entrevistas concedidas ao Jô Soares. Numa delas pude conhecer um pouco de sua história que também é narrada no livro. Uma história de superação.

Quando criança, sua mãe adotiva preparava uma cera com uma substância inflamável para cuidar do piso da casa quando, uma faísca de fogo atingiu a vasilha que por ela foi atirada pela porta da cozinha atingindo Tejon deformando-o completamente. Foram anos de tratamento médico e internações na tentativa de dar uma melhor qualidade de vida, o que de certa forma consumiu-lhe a infância.

Todavia, a habilidade de sua mãe adotiva ao tirá-lo de casa para o contato com as pessoas é algo que fascina. Quanta sabedoria daquela mulher, o mesmo podendo afirmar com relação ao pai adotivo. E a partir de então, uma superação a cada dia, levando-o desde uma recusa de emprego em uma empresa cujos proprietários eram conhecidos da família, por não ter datado a carta comercial através da qual solicitava uma oportunidade, até o título de mestre em Educação, Arte e Cultura pela Universidade Mackenzie; professor de pós-graduação da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) de São Paulo; presidente da TCA – Internacional em sociedade com especialistas italianos vinculados à Universidade La Sapienza, de Roma; Especialização em distintas áreas em escolas como Harvard, MIT, Pace University e Insead; Executivo e diretor de grandes corporações como Jacto S/A, Agroceres S/A e OESP Mídia/Bellsouth do Jornal O Estado de São Paulo. É consultor do Grupo O Estado de São Paulo e da Rede Social de Negócios Peabirus. Articulista de revistas, jornais e comentarista das redes Eldorado e Transamérica de rádio; presidente e membro do conselho de várias entidades.

Esse filho adotivo que iniciou seus estudos numa escola de crianças excepcionais e passou catorze anos de sua vida semi-internado em hospitais públicos é considerado um dos melhores palestrantes no Brasil e no exterior e autor de dez livros, incluindo o best-seller O voo do cisne, publica pela editora Gente, já em sua 5ª edição, A GRANDE VIRADA: 50 regras de ouro para dar a volta por cima. Uma leitura agradável. Recheado de histórias ilustrando os textos. Um livro que nos conscientiza de que “o maior medo do mundo não é o da morte, é o da vida”, então, como enfrentá-lo. Aí consiste todo o enredo de A GRANDE VIRADA.

Luiz Humberto Carrião.

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

O poema que Maiakovski não escreveu

[...]

“Na primeira noite eles se aproximam / roubam uma flor / do nosso jardim./ E não dizemos nada./ Na segunda noite, já não se escondem: / pisam as flores, / matam nosso cão, / e não dizemos nada./ Até que um dia / o mais frágil deles / entra sozinho em nossa casa, / rouba-nos a luz, e, / conhecendo o nosso medo / arranca-nos a voz da garganta./ E já não dizemos nada.” 

[...]


No Caminho, com Maiakóvski

Eduardo Alves da Costa
  
Assim como a criança
humildemente afaga
a imagem do herói,
assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer
por andar ombro a ombro
com um poeta soviético.
Lendo teus versos,
aprendi a ter coragem.
Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.
Nos dias que correm
a ninguém é dado
repousar a cabeça
alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz;
e nós, que não temos pacto algum
com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de me quarto
a ousadia me afogueia as faces
e eu fantasio um levante;
mas manhã,
diante do juiz,
talvez meus lábios
calem a verdade
como um foco de germes
capaz de me destruir.
Olho ao redor
e o que vejo
e acabo por repetir
são mentiras.
Mal sabe a criança dizer mãe
e a propaganda lhe destrói a consciência.
A mim, quase me arrastam
pela gola do paletó
à porta do templo
e me pedem que aguarde
até que a Democracia
se digne aparecer no balcão.
Mas eu sei,
porque não estou amedrontado
a ponto de cegar, que ela tem uma espada
a lhe espetar as costelas
e o riso que nos mostra
é uma tênue cortina
lançada sobre os arsenais.
Vamos ao campo
e não os vemos ao nosso lado,
no plantio.
Mas ao tempo da colheita
lá estão
e acabam por nos roubar
até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder
mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso
defender nossos lares
mas se nos rebelamos contra a opressão
é sobre nós que marcham os soldados.
E por temor eu me calo,
por temor aceito a condição
de falso democrata
e rotulo meus gestos
com a palavra liberdade,
procurando, num sorriso,
esconder minha dor
diante de meus superiores.
Mas dentro de mim,
com a potência de um milhão de vozes,
o coração grita - MENTIRA!


 Um poeta brasileiro, autor destes versos, tem sido confundido, com freqüência, nas quatro últimas décadas, com o poeta russo Wladimir Maiakovski. Os equívocos cometidos, as leituras apressadas, uma provável desatenção e, até mesmo, certo descaso com a produção poética brasileira contemporânea, já produziram interpretações impensadas e informações à beira de um ataque de sandice no meio cultural brasileiro. Comentários e artigos de algumas personalidades, de gente ilustrada e lida, têm reanimado a confusão e perpetuado um erro, no mínimo, culpado por uma séria injustiça que desvaloriza um dos grandes nomes da poesia brasileira particularmente criada na segunda metade do século 20. O poeta em questão o fluminense Eduardo Alves da Costa, nascido em Niterói (RJ) e, paulistanizado desde os anos 60, reconhecidamente um dos mais expressivos poetas de São Paulo, cidade cuja produção poética é rica também por contar, em sua geração, com nomes da grandeza de um Álvaro Alves de Faria, Alberto Beuttenmuller, Eunice Arruda, Renata Pallotini, Cláudio Willer, Jaa Torrano, Érico Max Muller, Roberto Piva, entre outros. Confundem o seu nome com o de Maiakovski por causa da publicação do seu poema, justamente intitulado “No caminho, com Maiakovski”, incluído originalmente no seu livro O TOCADOR DE ATABAQUE, lançado em São Paulo no ano de 1969. A Editora Nova Fronteira, do Rio de Janeiro, ao publicar a poesia reunida de Eduardo Alves da Costa, em 1985, com o título geral NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI, transcreveu os versos iniciais (que é a única parte conhecida do poema) com esta nota explicativa: “A autoria deste poema tem sido atribuída, por equívoco, ao poeta russo Vladimir Maiakovski. O poema foi escrito por Eduardo Alves da Costa, em 1964.” Mas, assim mesmo, os equívocos continuaram e continuam, nos dias de hoje, por este Brasil desmemoriado afora. É preciso que se reconheça a importância de Eduardo Alves da Costa como um dos grandes nomes da poesia brasileira do século 20. E isso não apenas por ombrear-se ao gigante russo Maiakovski, caminhando ao seu lado e lhe ditando, com o sangue dos seus versos candentes, a alma mestiça da América brasileira pulsando ritmada o seu discursivo e belo poema citado, e, sim, também, pela notável criação plena de verdade e consciência crítica dos seus poemas, a exemplo de “O tocador de atabaque”, “A rosa de asfalto”, “A cama de pregos”, “Ouço ruído de tambores”, “Tentativa para salvar a poesia”, “Canção para o meu tempo”, “Sugestões para elaboração de um novo mural na ONU”, “Banana split”, “Tropas”, “Nova presença no mundo” e “Na terra dos brucutus”, entre outros, todos (imperdíveis e leitura obrigatória para quem se sente brasileiro e latino-americano) publicados no seu livro NO CAMINHO, COM MAIAKOVSKI. (JUAREIZ CORREYA)

Luiz Humberto Carrião

sexta-feira, 19 de outubro de 2012

REBELDES BRASILEIROS, educadores que desafiaram dogmas

No facebook de Mav Sene Rosa: “No Japão, o único profissional que não precisa se curvar diante do imperador é o professor, pois segundo os japoneses, numa terra que não há professores não poderá haver imperadores”.

Neste pequeno grande livro Virgínia Bessa desnuda Paulo Freire, “o mestre que ensinou o oprimido a ler o mundo”; Lucas Jannoni Soares escreve sobre Anísio Teixeira, que “deu a vida pela formação do cidadão democrático”; e, Guilherme Azevedo, traça o perfil de Darcy Ribeiro, “homem de fazimentos: criador dos Cieps, da UnB, romancista, senador, indianista, historiador...”

Já no prefácio, Moacir Gadotti, Diretor do Instituto Paulo Freire e Professor Titular da Universidade de São Paulo define: “Sim, eles podem ser considerados rebeldes de ontem e continuam uma referência de hoje, porque são mestres do amanhã. Rebeldia: sinal de criatividade, iniciativa, inteligência, protagosnismo e, ao mesmo tempo, inconformismo, ruptura, desobediência […] compartilhando a luta contra o elitismo da educação brasileira...”

Como estudante vi o respeito com que meus professores, quando na condição de alunos, assistiram a “invenção do futuro” (na educação brasileira) pelo rebelde Anísio Teixeira. Como acadêmico de História, repudiávamos o que o Golpe de 64 havia feito com outro “inventor do futuro”, Paulo Freire. Pedagogia do Oprimido, sua obra referência no Brasil, tornara leitura obrigatória o todos nós; e, finalmente, como professor assisti a luta do último “inventor do futuro”, Darcy Ribeiro, como senador, relatando a LDB (Lei de Diretrizes e Base) da Educação Brasileira, em 1986. Muito além de seu tempo. Acabaram por nos ensinar “que as ideias são sempre vestimentas provisórias da verdade”.

Luiz Humberto Carrião

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

As 16 datas que mudaram o mundo, Pierre Miquel

O autor tem razão ao afirmar que a História é inquietante: ignoramos o seu rumo. “Nada nos diz que amanhã não será pior, que o futuro não possa suscitar mais atrocidades que ontem, mais guerras exterminadoras ou mais racismo violento, e tudo isso sem um fim previsível. Somente algumas religiões, ao predizerem o fim do mundo coincidindo com uma prestação geral de contas da História dos homens, o juízo final, lhe determinam uma temporalidade precisa, com um começo e um fim.”

Para o autor, professor emérito da Sorbone, historicamente, o depois sempre dá seu sentido ao antes. Exemplifica através a assertiva de que “... a revolução dá seu sentido às revoltas que a precederam; … a Primeira Guerra Mundial é anunciada pelas convulsões balcânicas de 1913...” e assim caminha a História onde o depois sempre dá seu sentido ao antes.

(1) O nascimento de Cristo

antes é o bloco imperial augusto e marmóreo do Império Romano que domina inteiramente mundo conhecido e para quem os cidadãos de Roma exploram no melhor de seus interesses os povos vassalos e os numerosos escravos.

depois é o nascimento do indivíduo como valor universal, livre, igual a seus irmãos, adorador de um Deus único, de um Deus de amor gerado por uma mulher.

(2) A queda do Império Romano

antes é a ficção da unidade do mundo romano, que se mantém vivo até então por meios artificiais e se torna cristão a partir do reino de Teodósio. O império do Ocidente só continua pela forte resistência do império do Oriente, mais sólido.

depois de 476, muito tempo após as grandes invasões, constitui a ruptura da unidade do mundo mediterrâneo com o desaparecimento definitivo do império romano do Ocidente. É também o aumento da intolerância religiosa em consequência do crescimento das primeiras heresias nos reinos bárbaros, que contribui para impedir a reconstituição de uma unidade.

(3) A Hégira

antes da Hégira, o ano I da era muçulmana, o ano de 622 da era cristã, representa a divisão do mundo conhecido entre os reinos bárbaros do oeste da Europa, fragmentados, divididos e ainda submetidos às invasões, e o império bizantino cristão que sobrevive a leste do Mediterrâneo.

depois a Hégira é a conquista muçulmana, a guerra santa, mantida pela fé de uma nova religião que deixa subsistir no Oriente um império bizantino enfraquecido e que estende seus avanços no Ocidente até a Espanha e ao sul da Gália, cortando em dois o Mediterrâneo durante quatro séculos.

(4) A coroação de Carlos Magno

antes de 800 é na Europa a anarquia de reinos impotentes diante das novas invasões bárbaras dentro de seu território.

depois de 800 é a Europa civilizada pelo cristianismo expandida e, direção ao norte e a leste, livre da influência do Islã ao sul. Sob o abrigo das marcas de Carlos Magno, ela pode se considerar e se dizer reunificada: a ideia de um império renasce no Ocidente, graças a coroação de Carlos, o grande, pela única autoridade espiritual que sobreviveu ao antigo império romano. Essa reconstituição da Europa do Noroeste e o prenúncio da imagem de uma Europa unida.

(5) A tomada de Constantinopla pelos turcos

antes de 1453 é a sobrevivência de um Estado cristão incrustado no Oriente. O Império de Bizâncio é uma espécie de exceção cristã em um mundo muçulmano.

depois de 1453 é a ameaça permanente do avanço muçulmano no Mediterrâneo e na Europa danubiana. É a instalação do Islã turco, senhor de um imenso império, que se estende do Oriente Próximo até a Europa.  
O Mediterrâneo se fecha. A rota das riquezas do Oriente é vetada para o Ocidente cristão. É necessário procurar em outro lugar, em direção ao oeste, as vias de desenvolvimento para uma Europa nascente.

(6) O descobrimento da América

antes de 1492 é o infortúnio do mundo mediterrâneo dividido entre o islã e duas Cristandades antagônicas, irreconciliáveis, a do Oriente e a do Ocidente. É também a miséria e a guerra entre os turcos otomanos e as poderosas nações de religião católica ou ortodoxa.

depois de 1492 é a entrada para a História do novo continente americano, é o abandono, por parte do grande comércio, do Mediterrâneo entregue às suas lutas intestinas, é a exploração progressiva das fabulosas riquezas do outro lado do Atlântico, o que desloca em direção ao noroeste da Europa os centros de poder.

(7) Martinho Lutero

antes de 1517, a Igreja católica ainda é universal na Europa ocidental, onde o papado de Roma não é seriamente contestado, mesmo se criticado em razão de vários abusos e de sua incapacidade de corrigi-los. Mas ele soube domar as heresias e impor-se aos soberanos dos Estados.

depois de 1517, pela iniciativa do monge alemão Martinho Lutero, a reforma protestante contestava a supremacia espiritual de Roma, divide os Estados Europeus que adotam a nova religião e que se opõem dessa forma aos Estados católicos. A reforma inciada por Martinho Lutero anuncia um longo período de guerras de religião que causarão a norte de vinte milhões de pessoas na Europa.

(8) A Revolução Francesa

antes de 20 de junho de 1789 a França é governada por uma monarquia de direito divino, um Estado que extrai sua legitimidade unicamente da sucessão dos reis, baseada no costume, e de uma organização social fundada no princípio do privilégio, que rege toda a sociedade. Ela é dividida em três ordens: a nobreza, o clero e o terceiro estado. Cada uma dispõe de um lugar estabelecido em instituições representativas, sem poder legislativo, como os Estados Gerais convocados pelo rei ou os Estados provinciais, quando as províncias possuem um.

depois de 20 de junho, os deputados eleitos pelo povo, reunidos em assembleia constituinte, declaram que a lei é superior ao rei e afirmam que a lei é comum a todos. É uma revolução. Falta somente abolir o privilégio.

(9) A Primeira Guerra Mundial

antes de Serajevo, em junho de 1914: a Europa dos reis prossegue tranquilamente a conquista e a exploração do mundo, não sem batalhas entre as nações e não sem resistências populares e coloniais.

depois de Serajevo é o nascimento de um novo mundo: a Europa perdeu o primeiro round, causando e sofrendo a primeira grande carnificina da História. Dois Estados que deram dois milhões de homens para a coalizão aliada destacam-se, a Rússia revolucionária e os Estados Unidos vencedor, e impõem em Versalhes os princípios de um direito internacional ao qual todos os povos devem aderir: Wilson contra Lênin.

(10) A Declaração de Balfour

antes dessa declaração, os judeus não dispõem de nenhum estabelecimento oficial no mundo que ofereça a seu povo uma segurança.

depois dessa declaração, torna-se possível obter um estabelecimento oficial e fortalecê-lo até que se transforme em uma nação independente e soberana.

(11) O Holocausto
antes do Holocausto, o massacre de judeus e de ciganos, de 1941 a 1945, nos campos de extermínio, é a invasão da Europa pelos nazistas, é o estabelecimento da ordem negra diante da ordem vermelha, o que implica a perseguição dos opositores e particularmente dos judeus, vítimas da política racista de Hitler, mas ainda não a morte cínica e cientificamente programada.

depois do Holocausto, o maior crime da história cometido deliberadamente contra a humanidade, é a inclinação dos povos do mundo inteiro na direção da busca, contra todas as agressões de uma proteção sem concessões, dos direitos elementares do homem e principalmente do direito de viver.

(12) Hiroxima

antes de Hiroxima, as guerras podem ser tecnológicas, terroristas, atentatórias contra os direitos humanos, mas elas não possuem meios para garantir a destruição instantânea e total de uma população.

depois de Hiroxima, está provado que essa destruição é possível em uma escala cada vez mais vasta. O mundo entra na era do superamento atômico e na era do equilíbrio pelo terror entra as duas grandes potências que dispõem da arma: os Estados Unidos e a URSS.

(13) A independência da Índia e do Paquistão

antes de 1947, o sistema colonial persiste no mundo. As metrópoles enfraquecidas pela guerra impõem o retorno à ordem em suas colônias.

depois da independência da Índia, conquistada em 1947, um poderoso movimento de descolonização se ergue no Terceiro Mundo, e ele conduz progressivamente à independência de todos os países colonizados, inclusive as Filipinas e a África do Sul.
A comunidade de potências aumenta na ONU, com a eclosão das novas nações em todos os continentes. Um novo mundo nasceu, e ele encontra seu lugar no “Terceiro Mundo”.

(14) O Tratado de Roma

antes de 1957, a Europa, que é constituída em nações antagonistas, está entregue às revoluções, às guerras de independência, aos imperialismos, às angustiantes rivalidades econômicas. Sua unificação é um sonho de intelectual, uma ideia que parece impossível de colocar em marcha.

depois de 1957, a Europa unida conhece um crescimento rápido, ignora durante meio século as guerras, começa na concórdia e na propriedade a construção política de suas instituições, para se posicionar no mundo como um grande conjunto democrático.

(15) O Muro de Berlim

antes da queda do Muro de Berlim, derrubado em 1989, é a guerra fria, é a Europa cortada em duas, é a ideologia comunista primeiramente dominante em 1945 e depois mantida por maio da repressão que se seguiu, nos países do Leste, após as revoltas das populações da Alemanha, da Polônia e da Tchecoslováquia...

depois do acontecimento de 1989 é o degelo do Leste, o triunfo absoluto da potência do Oeste, que tem como consequência o surgimento do mundo da pax americana que culmina com a guerra do Golfo. É também a revelação e a denúncia dos gulags, que desonraram o regime comunista.

(16) O 11 de setembro em Nova York

antes de 11 de setembro de 2011 é para o mundo a pax americana, definida e aceita após a guerra do Golfo pelo concerto das potências que estão empenhadas em manter o mundo num estado de direito em conformidade com os direitos do homem.

depois de 11 de setembro é o perigo que se instala no santuário americano, é a vitória do terrorismo cego no campo ocidental dos direitos do homem, é a entrada da História em uma zona de turbulência que dá de forma brutal a palavra a todos os excluídos da ordem mundial. Essa instabilidade questiona a eficácia da repressão e o retorno à ordem sob a égide do “concerto das nações”.

Comentário

O autor parte de Jesus Cristo como preceito de estruturação do Ocidente e Maomé o Oriente. Ambos com raízes Abraão, patriarca dos Hebreus e do Judaísmo. Jesus “filho” de José, o carpinteiro da dinastia de David, descendente de Isaac (Abraão com Sara) e, Maomé, o profeta, descendente de Ismael, filho de Abraão com Ester, escrava escolhida para lhe dar um filho varão com a finalidade de sucedê-lo no patriarcado diante da infertilidade de Sara que, depois no nascimento de Ismael, através de uma concessão divina deu a Abraão a amargura paterna: Ismael (bastardo) ou Isaac (legítimo). A escolha recaiu sobre Isaac e Ismael com sua mãe, segundo a narração bíblica, após receberem pão e água desligaram da tribo de Abraão e vagando pelo deserto formaram o que mais tarde seriam os Árabes.

Jesus Cristo torna os deuses romanos insignificantes, “não porque são múltiplos e ele somente um. Mas porque esses deuses de pedra são imagens, ídolos que confirmam um poder sem dar nenhum reconhecimento aos indivíduos. Roma aceita e tolera todos os deuses. Em cada cidade do mundo romano, os deuses estrangeiros figuram nos santuários em igualdade de tratamento. O dos cristãos é inadmissível, pois ele é único e condena todos os deuses-estátuas à destruição, incluindo Augusto e Roma. Ele questiona a natureza transcendental da instituição.” […] Jesus “é um homem entre os homens, que dá a seus irmãos a louca esperança de igualdade. Nada de escravos. Um homem é um homem, feito para a liberdade.” Jesus Cristo dissociou no império romano o Poder Divinal do Poder Temporal, e Maomé, em suas predicas a partir de 613, impõe aos Árabes, descendentes de Ismael um Deus único chamado Alá. De uma lado o cristianismo, e do outro o islamismo, ambos, com suas bases no Judaísmo e seus líderes descendentes de raiz comum. Enquanto o cristianismo cresce sobre o lado ocidental do império romano, o islamismo o faz do lado oriental, bizantino.

OBS: ao final de cada capítulo o autor publica uma pequena cronologia facilitando ainda mais a compreensão dos textos.

Interessantíssimo não somente a alunos dos cursos de História, Filosofia, Sociologia, Geografia, Artes, Ensino Médio e Fundamental, em fim, aos cursos de humanidades; mas a todos os cidadãos do mundo.

Luiz Humberto Carrião

Eros & Thanatos, a morte sob a óptica da enfermagem

Eros & Thanatos: a morte sob a óptica da enfermagem / Wiliam César Alves Machado, Joséte Luzia leite. – São Caetano do Sul, SP: Yendis Editora, 2006. 206 p.

Eros & Thanatos é um verdadeiro tratado psicanalítico sobre a vida e a morte, tomando como referência a visão de enfermeiros que acalantam no nascimento e silenciam na morte.

Os autores usam a palavra “cliente” em substituição a tão familiarizada paciente e o doente terminal “moribundo”.

Partindo de uma EQM (experiência de quase morte) vivida por um dos autores, doutor em enfermagem, professor e profissional da saúde usou a enfermagem para discutir um assunto subjetivo: a vida após a morte.

A obra é muito bem fundamentada do ponto de vista de pesquisa e contém depoimentos de profissionais de enfermagem interessantes e corajosos.

Num desses depoimentos uma enfermeira diz que o choque com relação à morte começou ainda na vida acadêmica. Mesmo assistindo o estado agonizante da pessoa, lhe foi muito difícil ver com qual violência o corpo é tratado no hospital depois da morte. Considera isso um estupro. Aliás, um duplo estupro como coloca, uma vez que a pessoa estuprada não tem como reagir. Não é fácil assistir ou ter que aplicar a violência da técnica, colocando metros de gaze e chumaços de algodão nos orifícios da pessoa.  Outro detalhe de relevância para ela é que você está lutando desesperadamente para salvar uma pessoa, e assim que é efetivado o óbito, de imediato a gente que se livrar dele. E para ela o mais chocante é como a família fica alienada desse processo. A família não é dada à participação. É como se o hospital com seu corpo profissional fosse dono da vida e da morte. A família trás um ser humano e recebe um “pacote”.

Para os autores “o livro pretende dar inicio a uma discussão sobre o tema da morte e do morrer como experiência de vida dos enfermeiros sob outro enfoque. Ele parte do princípio de que o medo da morte é uma reação natural de todos, especialmente dos que convivem com ela em sua prática profissional e precisam superar suas limitações para prestar assistência e cuidados aos clientes e apoio aos familiares. Além disso, propõe uma reflexão sobre nossas atitudes, assim como uma reavaliação de nossas crenças e valores religiosos como meio fundamental para aceitar os diversos valores e crença de nossa clientela.”

Interessante a correlação estabelecida entre o túnel vaginal durante o nascimento e o túnel descrito por todos aqueles que tiveram uma EQM (experiência de quase morte).

“Nascer é mergulhar em algo desconhecido [...] Morrer é fazer uma viagem sem levar a mala”.

Luiz Humberto Carrião

A ceia dos cardeais

Dantas, Júlio, A Ceia dos Cardeais/39 edição/198º milhar/Júlio Dantas/Livraria Clássica Editora. Lisboa – Portugal, 1948. 45 páginas

Em Roma, Vaticano, durante o pontificado de Benedito XIV, século XVIII, os Cardeais Gonzaga de Castro, bispo de Albano e carmerlendo; Rufo, arcebispo de Óstia e deão do Sacro-Colégio e, Montmorency, bispo de Palestrina, durante uma Ceia ...

Cardeal de Montmorency
... Não fizemos ainda nossas confidências,
E somos como irmãos... Tão amigos!

Cardeal Rufo
É certo!

Cardeal Gonzaga
Confidências?

Cardeal de Montmorency
Então... A morte vem tão perto!
Olhemos para trás, lembremo-nos da vida...
A saudade de um velho é uma estrada florida!

Cardeal Rufo
Confidências de amor!

Cardeal de Montmorency
Por que não há de ser?
Em toda mocidade há um riso de mulher.
Contemos esse riso uns aos outros... Nós três...
Recordar um amor é amar outra vez!
Ninguém nos ouve...

Cardeal Gonzaga
Mas, Eminência!

Cardeal de Montmerency
O maior Amor da nossa vida!

Cardeal Gonzagacom pudor, tapando a cara
Oh!

Cardeal Rufo
O maior amor!

Cardeal Gonzaga
Mas nós somos cardeais!

Cardeal Rufoentusiasmando-se
O sentimento humano
Em toda a parte vive, até no Vaticano!
E esta púrpura – aí não, seria crueldade! –
Pode matar o amor, mas não mata a saudade!

Cardeal de Montmorencyao Cardeal Gonzaga
Principie o mais velho... Eminência!
...

Escrita em versos, para um ato, representada pela primeira vez no antigo teatro D. Amélia, em 28 de março de 1902, evidência o Mea Culpa, a catarse: método psicanalítico que consiste em trazer à consciência recordações recalcada; Libertação de emoção ou sentimento que sofreu repressão.

Luiz Humberto Carrião

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Histórias... que a história não contou / Paulo Machado de Carvalho Filho; organizado por Carlos Coraúcci. - São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2006.

Muitos são aqueles que agradecem por terem nascido. Eu vou mais além, agradeço por ter nascido na data em que nasci, 1953. Com isso, pude presenciar a apresentação da cultura popular ao povo brasileiro pela TV Record de São Paulo e Rádio Panamericana, depois Jovem Pan. A década de 60 do século passado me foi decisiva. De lá trago a formação ideológica, humanística, cultural, musical e acima de tudo, a certeza de que o homem é capaz de traçar caminhos. Se a Idade Medieval com sua escuridão fermentou o Mundo Moderno, com certeza, os anos de 1960 não foram diferente com esse Mundo Contemporâneo. Gado, “a gente marca, tange, ferra, engorda e mata, mas com gente é diferente...” essa era a contestação não só no Brasil, mas no mundo! Racismo: segregação estúpida na América do Norte; Guerra do Vietnã: um genocídio em nome do consumismo; l964: Um golpe inaugura a ditadura militar no Brasil; Explosão na França: estudantes da Sorbonne protestaram, o reitor chamou a polícia e o estopim foi aceso; Explosão no Brasil: o estudante Edson Luís Lima e Souza tomba morto pela polícia no restaurante calabouço do Rio de Janeiro; Thecoslováquia e a breve Primavera de Praga: primeiro ouve-se um chiado de lagartas, depois perceberam que eram os tanques soviéticos; Acabou o mistério: a Lua deixou de ser dos namorados para ser dos astronautas; AI-5: uma rasteira na Constituição Brasileira. Como foram decisivos para a compreensão de tudo isso a TV Record. É... Essa mesmo aí, a do Bispo. Só que a TV retratada no livro é aquela do antes, e esta é a do depois.

De imediato, na orelha do livro, escreve Silvio Luiz: “Quem estuda ou escreve sobre comunicação tem a obrigação de sempre consultar este livro” [...] A primeira ilustração uma bela foto com Idalina de Oliveira, atualmente uma das entrevistadoras do programa Prazer em Conhecê-lo, na Rede Vida de Televisão, que por 25 anos foi garota-propaganda da emissora.

Dividido em décadas pelo autor em 1940, 1950 e 1960, são “causos” interessantes sobre a televisão, rádio e artistas brasileiros e estrangeiros, como a revelação de que quando da presença de Nat King Cole no Brasil, contratado pela Record, o fenômeno mundial exigiu tudo cor de rosa em seu quarto de hotel e camarim, neste inclusive as frutas, e para a surpresa do autor, ao visitá-lo no hotel o encontrou de cuecas e meias, também cor de rosa; Sammy Davis Jr, cantor e vocalista do conjunto vocal The Platters, além de ator Hollywodiano que, numa de sua temporada de seis dias no Brasil, ao brigar pelo telefone com sua namorada, a atriz sueca May Britt, quebrou toda a suíte presidencial do Othon Palace Hotel, cujo prejuízo alcançou a cifra de 50% dos valores recebidos na turnê. E mais, segundo confissão do empresário, isso era coisa rotineira com o artista; A paixão avassaladora de Marlene Drietrich por um playboy brasileiro, condicionando sua ultima apresentação no Brasil à presença no afair e de seu felino, um lince pardo, ambos na primeira fila do teatro. Com a MPB a inspiração dos Festivais da Record no Festival de San Remo; o porque do empate entre Banda de Chico Buarque de Holanda e Disparada de Geraldo Vandré, defendida por Jair Rodrigues; a atuação da Censura; “Habilmente, resolvi a situação conseguindo um emprego para o sobrinho da censora da Record. Após essa atitude, ela nunca mais colocou empecilho em nenhuma música. Seus olhos e ouvidos ficaram menos exigentes”.

No penúltimo capítulo fala das tragédias provocadas pelo fogo por várias vezes nos Teatros da Emissora e uma vez em sua torre de transmissão. Incêndios até hoje não revelado suas causas. Mesmo porque, em certa época, foram vítimas do fogo a TV Record, Globo e Bandeirantes.

Luiz Humberto Carrião        

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Violência urbana


A aurora durante esse meado do mês de setembro de 2012 tem sido abafada. O sol aparece no horizonte com uma preguiça que não lhe é comum. Depois, ao longo do dia, castiga como que se não tivesse piedade. Uma fumaça baixa prenunciando uma garoa que não vem acabada por dar um tom entristecedor ao horizonte visualizado do 14º andar de um edifício central na cidade de Goiânia, capital do Estado de Goiás. Dois gaviõezinhos carijós, já em processo de extinção nos campos, pouco maior que um bem-te-vi, em voos rasantes emitia um som diferente no seu canto. A princípio, a ideia que se tinha era de que estavam em um balé de acasalamento. Os telhados de amianto cobrindo os edifícios são locais escolhidos para a construção de ninhos. Assim que o sol banhou o beiral de um dos telhados apareceu todo imponente um enorme gavião Carcará. Só então o observador pode ter certeza de que não se tratava de balé de acasalamento, tão pouco aquele canto tratava-se de uma canção de amor. O casal de gaviõezinhos carijós em seus voos rasantes tentava defender o seu ninho, e o canto era um grito de desespero. Na medida em que o dia ia clareando mais rasantes eram os voos. O todo poderoso predador se limitava a abaixar a cabeça quando aqueles kamikazes se atiravam contra o inimigo. O observador desejou uma espingarda de pressão moderna para proteger o casal em desespero. De onde estava era como se diz na roça ‘colocar o chumbinho no carcará com a mão’. Mas a arma não existia. Na cidade não se pode ter uma arma, nem mesmo para a defesa. Restava a ele observar. Torcer para que o ninho não fosse atacado. Assim que o sol se apresentou por interno o imponente personagem na canção de João do Vale deu alguns passos cheios de preguiça e alçou voo. Os gaviõezinhos carijós desapareceram. De pouco adiantou a torcida do observador. Naquele momento o Carcará fazia o ‘quimo’ de seu belo breakfast daquela manhã.

Luiz Humberto Carrião
Setembro, 2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Reflexões

Noutro dia perdi um daqueles amigos ‘que não cabe num abraço’, como reverencia o poeta. Nesses momentos por mais estruturados que sejamos a fragilidade se faz presente. Acabamos por olhar pra dentro de nós mesmos e perguntar, e aí?

Ao completar 50 anos de idade, trabalhando na redação de um suplemento agropecuário de um semanário de Goiânia, fiz que como num desabafo na coluna que escrevia que a partir daquele momento iria preocupar-me com os meus direitos, já havia dado importância demais aos deveres. O que eu não sabia é que os deveres são eternos. E como tal, intermináveis. E, como para viver plenamente os direitos há que se estar em dia com os deveres, conscientizei! Jamais vou conseguir viver plenamente meus direitos.

Encontro-me naquele grupo de brasileiros que logo pela manhã através de uma ‘caneta’ fura um dos dedos para medir a glicemia. Os que têm responsabilidade mantêm-se em atitude ‘paulina’ à dieta prescrita pelo profissional da saúde, mas outros como eu, em que os deveres impediram de viver os direitos, têm no poeta argentino Jorge Luiz Borges a referência: ‘Se eu pudesse viver novamente a minha vida, na próxima trataria de cometer mais erros [...] Mas vejam só, tenho 85 anos e sei que estou morrendo’.

Para alcançar os 85 do poeta restam-me tão somente 26. Por isso, vou a partir de agora passar a ‘cometer mais erros’ a fim de evitar um arrependimento futuro.

Luiz Humberto Carrião
Setembro, 2012

sábado, 21 de julho de 2012

Um país onde a riqueza é medida pela Felicidade


Encravado na Cordilheira do Himalaia, entre a China e a Índia, no topo do mundo, bem perto o céu, agraciado com um relevo acidentado e de difícil acesso, o que facilitou a preservação da cultura de um povo feliz, diz-se o mais feliz da Terra, trabalhando o solo e recebendo o sopro divino trazido pelo vento que balança as bandeiras com versos sagrados, exalando paz, compaixão e sabedoria por toda região, lá está o Butão. O menor reino do mundo. Anteriormente ao inicio do século XX, os butaneses eram governados por um Lama, chefe religioso, quando foram separados religião e governo com a coroação de um Rei. Um de seus reis chegou alcançou o poder aos 18 anos de idade. Idealista e sonhador, não quis que seu país e seu povo repetisse os erros observados por ele em outros países, como por exemplo, a desarmonia familiar, o consumismo e a falta de cuidado com a natureza. O quarto monarca anunciou: “A felicidade Interna Bruta é muito mais importante que o Produto Interno Bruto”; com isso, criou um ambiente para o florescimento da Felicidade, esse equilíbrio emocional humano. Não é fácil medir a Felicidade, declara Thinley Namgyel, do Departamento da Felicidade, ela depende de cada um. O que temos aqui é um instrumento de triagem. Então, qualquer política, programa , inciativa, que vem para a comissão é testada por este instrumento. Nós avaliamos o impacto na Felicidade Interna Bruta, concluiu. Ao contrário do Produto Interno Bruto, que tem um índice para ser avaliado, a Felicidade Interna Bruta não pode ser medida, mas o governo utiliza-se de 23 critérios para avaliar se um projeto pode ou não diminuir a felicidade do povo, dependendo desse resultado ele será ou não aprovado. Resumindo: no Butão a riqueza é medida pela Felicidade.

Luiz Humberto Carrião   

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Countee Cullen

A semente

Tive a impressão que o corpo era semente
Quando na Terra fui menino,
E se o vento empurrava-me no campo
Eu maldizia meu destino.

Essa Ideia curiosa acompanhou-me
E bem mais tarde, homem já feito,
Quando ia ao cemitério e via a cova
Sentia opresso todo o peito.

Quando contei o caso, meus amigos
Disseram: 'Certo, você mente.'
Mas desde que morri tenho certeza
De que saí de uma semente.
   

Thomas H. Dickinson escreve que 'durante a Guerra Europeia o negro afirmou-se como o cantor das próprias canções e compositor das suas próprias poesias e músicas. Assim fazendo, trouxe à América do Norte uma contribuição que muitos afirmam ser a nota mais tipicamente norte-americana nas letras, nas artes plásticas e na música do país.' Dentre esses talentos está o poeta e romancista negro Countee Cullen (l903 - 1946) que muitos de seus poemas foram transformados em canções por Emerson Whithorne. Bacharel em arte pela Universidade de Nova Iorque, em 1925, e no ano seguinte, doutor em artes pela Universidade de Harvard. O poema A SEMENTE foi extraído da obra Antologia do mais além, Jorge Rizzini, Editora Espírita Paulo de Tarso. Goiânia. 1993.
Luiz Humberto Carrião  

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Quem tem medo da obsessão?


Tensões e ansiedades. 
Angustias e depressões. 
Perturbações e desequilíbrios. 
Neuroses e psicoses. 
Desentendimentos e desuniões. 
Agressividade e violência. 
Vícios e compulsões.

Jean Paul, citado por Flávio Carneiro em O LEITOR FINGIDO, editora Rocco. Brasil. 2010, afirma que ‘livros são cartas endereçadas a amigos, só que mais longas’. Assim me pareceu o livro de autoria de Richard Simonetti, QUEM TEM MEDO DA OBSESSÃO? Veio-me a uma releitura dez anos depois, com uma observação à página 92: ‘É necessário um estudo mais profundo de minha parte sobre a obsessão fascinação para encontrar o porquê de tudo que estou passando. 14.7.2002. Carrião’. Desliguei a televisão. Tomei um caderno de anotações. Debrucei sobre o livro madrugada afora. Ao contrário, como sempre faço não me propus a uma opinião sobre a obra, e sim, uma resenha, tamanha importância do assunto tratado.

Quem tem medo da morte?
Quem tem medo dos espíritos?
Quem tem medo da obsessão?

Richard Simonetti, em - QUEM TEM MEDO DA OBSESSÃO? - procura ‘desmitificar a tão temida influência demoníaca que as fantasias teológicas vêm sustentando’. Espírita, atribui muito de nossos desajustes e enfermidades a influências espirituais. O Espiritismo vai mais além, escreve o Simonetti. Submetendo o fenômeno mediúnico a rigorosos métodos de experimentação, o que lhe permite superar crendices, mitos e superstições, demonstra que anjos e demônios são apenas homens desencarnados, as Almas dos mortos, agindo de conformidade com suas tendências. São regidos, entretanto, por leis divinas que mais cedo ou mais tarde nos conduzirão todos à perfeição. Esse o objetivo de Deus que, como ensinava Jesus, não quer perder nenhum de seus filhos. E não perde mesmo. Se perdesse, não seria Onipotente, observa o autor.

Dicionário de Filosofia Espírita. Palhano Junior. Edições CELD. Rio de Janeiro, 1999. Espiritismo. (Do francês: Espiritisme) Doutrina codificada por Allan Kardec, baseada nas evidências da sobrevivência da alma e da comunicação dos Espíritos com os homens, por meio da mediunidade. ‘O Espiritismo é uma ciência que vem revelar aos homens, por provas irrecusáveis, a existência e a natureza do mundo espiritual e suas relações com o mundo corpóreo’. Obsessão. Impertinência; perseguição; vexação. Preocupação exagerada com determinada ideia, que domina de modo doentio o espírito, sendo resultante ou não de sentimentos recalcados. Ideia Fixa. Mania. Segundo Allan Kardec em ‘O Livro dos Médiuns’ (Cap. XXIII) obsessão, na ideia espírita, é o domínio que alguns Espíritos inferiores logram adquirir sobre certas pessoas. Kardec lembra ainda que os Espíritos Superiores e Bons, nunca infligem constrangimentos, ao contrário, aconselham, combatem a influência dos maus espíritos. Os maus espíritos, quando podem e conseguem, agarram-se àqueles de quem podem fazer suas presas. Chega-se a dominar alguém se identifica como espírito deste e o conduzem como se fora verdadeira criança. A obsessão, então, consiste na tenacidade de um Espírito, do qual não consegue desembaraçar-se a pessoa sobre quem ele atua. A obsessão apresenta caracteres diversos, que é preciso distinguir e que resultam do grau do constrangimento e da natureza dos efeitos que produz. A palavra obsessão é, de certo modo, um termo genérico, pelo qual se designa esta espécie de fenômeno, cujas principais variedades são: obsessão simples; fascinação e subjugação. 1. Obsessão simples: influência de um Espírito malfazejo que se imiscui no campo mental de uma pessoa e o importuna de várias maneiras, psicológica, física e moralmente. 2. A fascinação é muito mais grave. É uma ilusão produzida pela ação direta do Espírito sobre o pensamento do médium e que, de certa maneira, lhe paralisa o raciocínio. O fascinado, médium ou não, não acredita que o estejam enganando: o Espírito tem a arte de lhe inspirar confiança cega (hipnótica), que o impede de ver o embuste e de compreender os seus atos, por mais que o absurdo deles salte aos olhos de toda gente. 3. A subjugação pode ser moral ou corporal. No primeiro caso, o subjugado é constrangido a tomar resoluções Muitas vezes absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, ele julga sensatas. Quase que uma fascinação, só que compulsiva. No segundo caso, o Espírito atua sobre as regiões motoras do cérebro em transe e provoca movimentos involuntários. Pode levar aos mais ridículos atos. Obsedado. Que sofre a ação infortuna e tenaz de alguém, de um espírito, de uma ideia; completando a trilogia, obsessor, aquele que causa obsessão; que importuna.

Influem os Espíritos em nosso pensamento e, em nossos atos?

Um novo esclarecimento: Espírito. (do latim: Spiritus = sopro, vento, hálito, respiração, exalação, sopro divino, gênio, espírito, alma: do grego: pneuma. Em Aristóteles, pneuma era o poder formativo e invisível, e, assim, a palavra aproximou-se do significado atribuído a psyché (alma). Alma era puramente funcional – alma das coisas – e pneuma era usado como substância. Para o Espírita, alma é o Espírito encarnado. No sentido especial da doutrina espírita, os Espíritos são os seres inteligentes da criação, que povoam o Universo, fora do mundo material; constituem os seres inteligentes do mundo invisível, ou mundo espiritual. Não são seres oriundos de uma criação especial, porém as almas dos que viveram na Terra, ou nos outros planetas, e que deixaram o invólucro corporal. Diz-se que a alma é o Espírito encarnado. Parte imaterial do ser humano.

Questão 459 de O Livro dos Espíritos em resposta à pergunta: ‘Muito mais do que imaginamos; influenciam a tal ponto, que de ordinário são eles que os dirigem’. Os Espíritos estão aqui. O mundo espiritual é esse aqui. Aqui é que os Espíritos viciados procuram satisfazer o vício; vítimas intentam vingar-se de seus algozes; usurários defendem o ouro amoedado; ambiciosos pretendem sustentar dominação; fugitivos da luz trabalham em favor das trevas; famintos de sexo vampirizam sexólatras; gênios da maldade semeiam confusão; e, e alienados da realidade espiritual perturbam familiares. É toda uma imensa população invisível que nos acompanha e influencia, não raro, transformando-nos em instrumentos de seus desejos, manipulando-nos como se fossemos marionetes.

Simonetti assevera que Tato, Paladar, Audição, Visão e Olfato nos colocam em contato com o mundo físico, a mediunidade, um sexto sentido, nos coloca em contato com o mundo invisível, o espiritual. Mediunidade. É uma faculdade inerente ao homem que permite a ela a percepção, em um grau qualquer, da influência dos Espíritos. Não constitui um privilégio exclusivo de uma ou outra pessoa, pois, sendo uma possibilidade orgânica, é hereditária e depende de um organismo mais ou menos sensitivo. Só se classificam pessoas como médiuns, se a mediunidade se mostra bem caracterizada e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade. Essa faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resultam variedades quantas são as espécies de manifestação.

Anjos e Demônios são espíritos que atuam, no caso especifico, sobre o encarnado de acordo com seu grau de evolução. Simonetti define a obsessão como uma espécie de torcicolo mental, onde o indivíduo sente-se dominado por determinados pensamentos ou sentimentos, como se fosse uma paralisia da vontade que lhe impõe embaraços à apreciação serena e saudável dos conjuntos existenciais. Em uma frase: ‘Obsessão é ideia fixa. É um comportamento insólito e compulsivo. Assim define a obsessão: 1. Obsessão simples começa geralmente como auto-obsessão, onde o obsedado passa a se comportar de maneira como é visto; A fascinação é mais envolvente que a simples. O obsedado é convencido de realidade em suas fantasias. ‘Na obsessão simples o obsediado sabe que está errado nos absurdos em que incorre; na fascinação ele não tem nenhuma dúvida de que está absolutamente certo’. Utilizando-se de uma imagem, Simonetti, compara o obsediado simples a um neurótico do ponto de vista clínico, e o obsedado fascinante a um psicótico, e ilustra com a frase de Jerome Laurence, dramaturgo norte americano: ‘O neurótico constrói um castelo no ar; o psicótico, mora nele’, e, acentua de maneira mordaz, Laurence, referindo-se às sessões terapêuticas: ‘O psiquiatra cobra o aluguel que muita das vezes é vitalícia’. Sobre isso, escreve Simonetti: ‘Curiosamente, a vítima da obsessão simples pode encontrar a cura de seus padecimentos submetendo-se à terapia freudiana. Uma negação aos princípios espíritas? Não! Ocorre exatamente o contrário. O sucesso da psicanálise apenas confirma o Espiritismo. A explicação e simples: Iniciada a análise, estabelece-se uma disputa entre o médico e o obsessor. O médico, usando a palavra articulada, procura induzir o paciente a reagir aos seus temores e angústias, conquistando a estabilidade emocional. O obsessor, pelos condutos do pensamento, trata de sugestioná-lo para que permaneça no desequilíbrio. Se o psicanalista possuir um poder de persuasão mais avantajado provavelmente prevalecerá sua iniciativa, favorecendo a recuperação do paciente. [...] Tão logo é suspenso o tratamento o obsessor volta a envolver o obsedado, explorando-lhes as fraquezas e precipitando-o em novas crises. Muita conversa e dinheiro desperdiçados porque o psicanalista, geralmente orientado por concepções materialistas, tem os olhos cerrados à realidade espiritual’.

Uma das fascinações mais freqüentes ao obsedado é a amorosa, principalmente, quando a partir da tração física instala-se o desejo irrefutável de comunhão carnal, em paradoxos passionais. E, finalmente, na obsessão demoníaca já uma subjugação onde o obsessor controla os movimentos do obsedado, sobrepondo-se suas reações, impõe-se lhe gemidos, gritos, estertores, orgasmos, desmaios, desvarios incontroláveis. Simonetti esclarece que ‘animados por mórbidos propósitos o perseguidor invisível tanto mais se compraz quanto maior a degradação a que consegue submeter a vítima, levando-a, não raro, a precipitar-se na solidão de cubículos destinados a inquietos e agressivos enfermos mentais.

Tanto quanto o amor, o ódio recíproco estabelece estreitos vínculos. Há apenas uma diferença: os que se amam auxiliam-se mutuamente, em laboriosas jornadas de progresso e bem estar. Os que se odeiam agridem-se interminavelmente, com vantagem eventual para aqueles que se situam no anonimato, quando despidos da carne, em transito pelo além. Jesus dizia que espíritos dessa natureza só podem ser afastados com jejum e oração. Se por um lado o jejum simboliza o empenho de superar a natureza animal, representada pelos vícios e paixões; a oração simboliza o empenho de cultivar a natureza espiritual, buscando a comunhão com Deus. A obsessão geralmente origina-se de sombrios dramas pessoais de inenarráveis tragédias ocorridas no passado distante ou próximo; em existências anteriores ou na atual, assevera Simonetti.

A verdade liberta!
Procure a sua.

Luiz Humberto Carrião